O estudo do desenvolvimento motor pretende basicamente descrever e explicar as modificações observáveis no comportamento motor humano ao longo da vida. Um objectivo tão abrangente recorre necessariamente a contributos de diferentes áreas do conhecimento, especialmente as tradicionalmente ligadas ao estudo da evolução de organismos vivos, numa perspectiva biológica, ou as que se preocupam com o estudo dos comportamentos humanos considerados quer individual quer socialmente.
O processo de desenvolvimento tem início na fusão de um óvulo e de um espermatozóide e decorre sob um controlo genético de enorme precisão. Em ambiente intra-uterino o novo ser desenvolve-se a um ritmo vertiginoso aumentando entre a 4ª e a 40ª semanas qualquer coisa como 130 vezes para o comprimento e 8000 vezes para o peso. Á nascença apresenta, contudo, pouco mais do que 50 cm de comprimento e 3 Kg de peso. O desenvolvimento intra-uterino não é apenas decisivo no que diz respeito ao crescimento físico; também a motricidade passou por diversas e complexas transformações até atingir, no momento do nascimento, uma sofisticação considerável em termos de capacidade adaptativa e, sobretudo, de potencialidade para o desenvolvimento.
Se nos primeiros tempos os cuidados maternos são decisivos, essa responsabilidade de estimulação incorpora, com o tempo, outros e novos agentes alargando as fontes de interferência no desenvolvimento. Essas interacções incluem aspectos fundamentais como a nutrição, a organização de hábitos, a modelação de comportamentos por intervenção educativa ou tão somente por imitação. Lentamente o organismo torna-se apto para a realização de movimentos de considerável complexidade.
Por volta dos dois anos de vida é já visível um repertório motor rudimentar que inclui as formas essenciais de movimentos e habilidades necessários à maioria das tarefas do quotidiano. Praticamente todas as unidades fundamentais de comportamento motor do adulto são observáveis no final da primeira infância, desde as mais exigentes em termos de precisão e minúcia de movimento, como as de preensão, até às habilidades globais orientadas para a locomoção, a organização postural, ou a manipulação de objectos presentes na maioria dos jogos infantis.
Paralelamente a criança torna-se mais resistente, mais forte, mais coordenada, possibilitando uma modificação quantitativa das actividades físicas com reflexos na natureza das brincadeiras preferidas e, sobretudo na manifestação de uma tendência para a especialização-individualização do seu comportamento. Esta fase de transição corresponde, grosso modo, ao período do salto pubertário durante o qual vão ocorrer profundas transformações hormonais e morfológicas, mas também motoras e comportamentais. É na adolescência que, geralmente, tem lugar uma mais profunda especialização, restringindo e simultaneamente aperfeiçoando as opções motoras individuais. O crescimento prolngar-se-á até à idade adulta e a busca de uma maior eficiência corporal continua por muitos anos mais. Inevitavelmente, o ciclo da vida obrigará a uma progressiva redução da possibilidades corporais, acompanhada de alterações estruturais e funcionais de intensidade e extensão variáveis. É tarefa do estudo do desenvolvimento motor humano a descoberta de linhas de ordem na casualidade aparente do desenvolvimento e a compreensão dos mecanismos explicativos de organização desse processo.
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